Quarta-feira, 31 de Março de 2010

(59) Inércia

Inércia

 

Neste lugar não jaz ninguém

que de mim não tenha feito parte. Deixo-me

tatuar pela sombra que a luz promete:

as vendas têm fendas, mas os olhos

já não brilham como o olhar reflecte.

 

O sangue que pulsa adormecido

é o pó que semeio nos dias férteis

do negro sal que em mim restou.

Mas no fim não respirei nada

daquilo que em mim expirou.

 

Alguém que me desfaça os nós dos dedos!

para que eu possa folhear-me devagar

(ai de mim se o ar se agita).

Quero escalar as montanhas do que guardei

e limpar a ferrugem da língua aflita.

 

Perdi-me da ânsia de partir

pois já não caminho mais, move-se

por mim a estrada que me prendeu.

E para quê pisar a terra, se a chuva

vai tropeçar sobre cada passo meu?

 

Tenho incêndios na garganta

como a quem já não basta falar. Canto, então,

para fazer do tempo breve conquista.

 

Já é hora? Pois não esperes, vida.

Vai andando, que eu sigo-te com a vista.

 

 

 

Sofia Gomes

 

publicado por poesiaemrede às 00:54
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1 comentário:
De Duda a 20 de Abril de 2010 às 02:48
Gostei do seu estilo, também estou concorrendo, inscrevi um poema que inclusive não gosto muito (nº52 - Dias), minha poesia é urbana e caótica, não respeito rima, nem metrificação(apesar de gostar de Olava Bilac, Fernando Pessoa, Vinícios de moraes, entre outros e o meu preferido Augusto dos Anjos), além de ter um português sofrível. Mas escrevo com o coração. Se puder visite meu blog www.gasolinadiet.zip.net naõ se assuste tem de tudo um pouco, se não gostar por favor xingue, é pra isso que ele serve.
Parabéns pela poesia!
Abraços, Duda

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